Segurança de prédio precisa reagir ao flagrar assalto na frente de condomínio?
Caso de vigia que viu crime contra mulher, não se mexeu e ainda se afastou do suspeito revoltou moradores
O caso de um segurança de um prédio de luxo que presenciou uma mulher ao ser assaltada e ficou imóvel, sem esboçar nenhuma reação, dividiu a opinião dos moradores da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo: ele deveria ou não ter ajudado a vítima, mesmo pondo a si próprio em risco?
Para Chen Gilad, que é CEO do Grupo Haganá, empresa de segurança patrimonial e privada, “o ideal é não reagir porque pode ser que o assalto mude de rumo e, disso, acabar surgindo duas vítimas”, afirmou ao R7.
A Lei nº 7.102 concede o porte de arma a vigilante quando em serviço, entretanto, segundo Gilad, nem todos os vigias andam armados. Para ele, mais importante do que pensar na reação ou não do segurança durante o assalto é avaliar o que ele fez depois, se prestou algum tipo de assistência à vítima daquela violência.
O consultor em segurança Marcy de Campos Verde afirma que o ideal é tentar evitar ao máximo essas situações, mas, quando ocorrem, não há nada que as vítimas possam fazer além de acionar a polícia. “Depois que o negócio começa, só a polícia pode reagir e, às vezes, nem reage”, explica.
Campos Verde também explica que a não reação acaba trazendo uma sensação de não ação, mas a preferência é que nada seja feito, para evitar vidas perdidas.
Outro ponto levantado é a função exata do profissional que trabalha para o condomínio. “Temos que avaliar o fato de que, talvez, esse profissional não seja especificamente um segurança. Ele pode ser um controlador de acesso, que fica verificando se quem entra na garagem do condomínio é realmente um morador”, ressalta Chen Gilad.
Em condomínios, é comum a atuação de diversos vigias em todos os períodos do dia, além de porteiros e equipamentos de segurança que visam a manter o morador do local fora de perigo. Mesmo assim, é difícil garantir que todos esses mecanismos sejam completamente eficazes.
A responsabilidade da segurança do condomínio é só pela parte interna?
O comerciante Francisco Avelar, que é morador de um condomínio na zona norte de São Paulo há mais de 30 anos, pondera a importância da gestão dos prédios também se preocupar com a parte externa, até pelo fato de o local ser mais atrativo para novos residentes.
“Tecnicamente, eles trabalham para a segurança dos moradores daquele local, e esses moradores, obviamente, andam no entorno do condomínio. Então, qual a diferença entre você fazer a segurança do morador do prédio que está passando ali na calçada e de uma pessoa aleatória que também está passando por ali?”, questiona.
Para o CEO do Grupo Haganá, que é engenheiro civil com foco em segurança patrimonial e antissequestro, “o dever do segurança é da porta do condomínio para dentro”, mas a parte humana deve sobressair. “Se presenciou, tenta prestar um auxílio à vítima, chama a polícia, anota a placa do carro, mas a orientação é não reagir”, diz Gilad.
Segundo o especialista, ações em casos como o que ocorreu em frente a um condomínio da Vila Mariana “devem ser feitas por pessoas treinadas para este tipo de crime, como a polícia”, conclui.
A diretoria do Grupo Pro Secuity, cujo colaborador esteve envolvido na ocorrência, enviou um comunicado oficial sobre a situação: “Em atenção a reportagem veiculada no dia 12 de janeiro de 2023, sobre o roubo ocorrido em via pública na data de ontem, na Vila Mariana (SP), esclarecemos o que segue:
Lamentamos profundamente a violência urbana sofrida pela cidadã.
A ação do nosso controlador de acesso seguiu os treinamentos recebidos e atendeu a cartilha da Segurança Pública de São Paulo, de nunca reagir mediante grave ameaça, para não aumentar o risco já existente.
Considerando que o assaltante estava armado, caso o controlador de acesso esboçasse alguma resistência, muito provavelmente haveria a reação do assaltante e as consequências poderiam ser além da perda material, tanto para a senhora envolvida, quanto para o colaborador.
O controlador de acesso que estava no local não é um vigilante ou segurança, não trabalha armado, não possui colete à prova de balas e tem a finalidade exclusiva de controlar o acesso de pessoas e veículos para o interior do condomínio contratante.
A orientação em treinamento, em consonância com a Cartilha de Segurança Pública de São Paulo, rege que diante de uma situação de risco como a ocorrida, o profissional deve manter a calma, não esboçar reação com o objetivo de preservar a integridade física de todos os envolvidos e, na medida do possível, acionar o apoio da Polícia Militar.
Informamos ainda que, durante o assalto, nosso controlador de acesso que estava no interior da guarita colheu os dados da motocicleta e acionou a Polícia Militar de São Paulo.
Novamente lamentamos profundamente a violência sofrida pela cidadã.”
*Estagiária, sob supervisão de Márcio Pinho
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