Escolas para alta renda de SP e Rio reforçam segurança com blindagem
Agentes de segurança disfarçados e armados, checagem eletrônica de carros para embarque e desembarque, guaritas e portões blindados, muros capazes de resistir ao choque de um veículo.
A descrição acima poderia ser de um presídio ou de uma embaixada numa zona de guerra, mas é de uma escola para famílias de alta renda em São Paulo.
Preocupadas com sequestro, assalto, bala perdida ou até um ataque terrorista, escolas paulistas e cariocas estão investindo em sistemas de segurança sofisticados, incluindo blindagem.
“A falta de segurança pública é tão grande que estamos blindando não só carros e casas, mas também escolas. É algo que só se vê no Iraque ou no Afeganistão”, diz Carlos Frederico Aguiar, presidente da Abimde, que reúne fabricantes de materiais de defesa.
Segundo a Folha apurou, estão em construção três unidades de escolas renomadas –duas em São Paulo e uma no Rio– com blindagem de guaritas, portões, muros e até de vidros externos
Pelo menos outros dois colégios também blindaram suas guaritas e portões –um deles depois que policiais e assaltantes trocaram tiros em frente à escola, durante uma perseguição, no horário de entrada das crianças.
Procurados, os representantes das escolas não deram entrevista, porque temem colocar em risco os alunos. A Folha visitou um dos colégios, cujas obras já foram parcialmente concluídas, com o compromisso de não revelar seu nome ou localização.
CHECAGEM ELETRÔNICA
O sistema de segurança das escolas começa na rua. Na fila de carros para deixar ou buscar as crianças, seguranças utilizam uma máquina para conferir as placas.
O equipamento indica a quem pertence o veículo e traz fotos de seus possíveis motoristas. Mais próximo do portão de entrada, uma câmera verifica novamente a placa. O carro só é liberado depois dessa dupla checagem.
Quando existe espaço disponível, escolas novas estão sendo construídas com áreas internas de embarque e desembarque, para impedir a entrada de qualquer veículo suspeito e proteger os pais de assaltos enquanto aguardam.
Ao mesmo tempo, agentes uniformizados fazem a ronda nas imediações da escola e estão preparados para dar o alarme se virem algo suspeito, como uma tentativa de roubo ou alguém portando uma arma.
MURO BALÍSTICO
Na escola visitada pela reportagem, na área voltada para a rua, está em construção um muro balístico, capaz de resistir a tiro, explosão ou até ao choque de um veículo –uma precaução contra ataques terroristas.
Os vidros que dão para a área externa também foram protegidos com películas que resistem até a tiros de fuzil. Nessa área, foi instalado o almoxarifado e a sala administrativa. As salas de aula estão voltadas para o pátio interno.
Depois de terminada a obra, os alunos vão passar por uma eclusa de vidros blindados –uma espécie de duplo portão, no qual o segundo só abre depois do fechamento do primeiro– para ter acesso à escola.
As guaritas e a sala interna de segurança também são blindadas, para evitar o acesso de criminosos. É de lá que a segurança controla a abertura dos portões e pode acionar um botão de pânico, que chama a polícia.
Segundo Felipe Massetti, sócio da empresa Safety Wall, a blindagem, por enquanto, está restrita aos colégios voltados para a alta renda, por conta do custo. No total, as escolas chegam a investir R$ 2 milhões em segurança. Muros balísticos, por exemplo, custam cerca de R$ 300 mil.
AGENTES ARMADOS
Na escola visitada pela Folha, o ambiente interno é “esterilizado” às 5h30, antes da chegada das crianças. Os seguranças conferem visualmente todos os ambientes, incluindo teto e chão.
Quatro agentes de segurança a paisana circulam armados pela escola, mas ninguém percebe. Eles se parecem com pais ou professores e interagem normalmente com a comunidade. São preparados com aulas de tiro e treinamento psicológico.
APARATO DISCRETO
O aparato de segurança das escolas de alta renda é amplo e sofisticado, mas está longe de ser ostensivo. Depois de cruzar o portão de entrada, não é possível perceber que se trata de um ambiente superprotegido.
As áreas são monitoradas por câmeras discretas e não há indicação de que os vidros são blindados. Os seguranças circulam a paisana por corredores, pátio e quadras.
O objetivo é minimizar a percepção de alunos e pais. “A segurança é feita de forma humanizada para evitar que crianças se sintam num presídio”, diz Claudio Fisisher, consultor de segurança.
SEGURANÇA PRESENTE
Para Silvia Culello, professora de psicologia da educação na USP, as medidas não afetam a aprendizagem dos alunos, porque também estão presentes em suas residências, clubes e em outros lugares que frequentam.
“O mais importante é discutir com os alunos porque necessitamos de todo esse aparato e gerar consciência da violência que existe no país”, diz Cuvello. “Temos que evitar que as crianças vivam num mundo de fantasia e não percebam os perigos”, completa.
Ela ressalta que a violência está mais presente em escolas públicas. Em pesquisa de 2015, Cuvello pediu a crianças de 6 a 10 anos do ensino público em São Paulo para escolher entre os itens de uma lista o que comprar com uma suposta verba extra recebida pela escola. Grades e computadores estavam entre os mais citados pelos estudantes.
Segundo a Cuvello, as crianças justificavam a escolha de grades dizendo que era preciso impedir não apenas a entrada de bandidos, mas também que colegas fugissem.
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